Fundadora relembra início da Fábrica de Bolos Vó Alzira, que continua se expandindo na pandemia

Empreendedora Alzira Ramos inaugura mais uma loja no Rio de Janeiro neste mês.

O ano era 2008. Uma família tijucana enfrentava uma delicada situação financeira. Alzira Ramos, então com 60 anos, pensou em encontrar uma maneira de ajudar o marido nas despesas da casa fazendo algo de que gostasse. Foi aí que veio a ideia de começar a preparar bolos para vender. O primeiro, feito para um amigo que queria ajudá-la, foi de iogurte, graças a receita passada por uma cunhada. O doce agradou e não demorou para ganhar fama na vizinhança e muitos outros sabores. De repente, a mais nova confeiteira do bairro precisava atender a dez, 50 pedidos no mesmo dia.

A estrutura da cozinha do modesto apartamento começou a ficar pequena para dar conta de tantas encomendas da guloseima. O negócio artesanal crescia numa velocidade impressionante, como se uma mão tivesse jogado doses generosas de fermento sobre ele. A simpática senhora, dona da Fábrica de Bolo Vó Alzira, que este mês inaugura a primeira unidade no NorteShopping, não duvidaria de que foram as mãos de Deus: “Tenho certeza de que Ele apontou para mim e disse: ‘Vai que chegou a sua vez’”. De fato, fica difícil duvidar de que houve um toque divino nesta história de sucesso que tem números impressionantes. Na Zona Norte do Rio, entre lojas próprias e franquias, são 40 unidades. Em todo o Brasil, já são quase 300.

Nem a pandemia de Covid-19 foi capaz de frear o êxito do empreendimento genuinamente tijucano. A crise não bateu com força à porta de Alzira, atual moradora da Barra da Tijuca que só tem boas lembranças dos 25 anos em que viveu na Rua Pereira Nunes, cenário do início da sua bem-sucedida trajetória profissional.

— Não dá para dizer que não houve perdas, mas, apesar de tudo, estamos conseguindo levar bem os desafios que surgiram de março para cá. Nós não fechamos nenhuma loja e estamos dando todo o apoio necessário aos franqueados. Eu não entendo de administração, só dos bolos, mas os meninos (referindo-se aos responsáveis pelo setor financeiro da empresa) me informam tudo. Eu gosto mesmo é de visitar as lojas, de conversar com as pessoas que trabalham conosco e de ir às inaugurações. Mas estou trancada em casa com o Cláudio (marido) desde o início da pandemia. O meu filho (Alexandre, de 44 anos) não deixa a gente sair de jeito nenhum. Estou doida que essa doença acabe logo para voltar a trabalhar — diz a empresária.

Quando se vivia sem a sombra da Covid-19, Alzira dava expediente de três a quatro vezes por semana. Provar os bolos nas lojas e experimentar novas receitas estavam entre as suas atribuições.

— Eu sempre gostei de ir pessoalmente às lojas para ver se estava tudo certinho, dentro do nosso padrão de qualidade. Sinto muita falta de trabalhar. Aposentadoria é uma coisa que nem passa pela minha cabeça. Dizem que é o olho do dono que faz crescer o negócio (risos). Sou muito grata a todos que trabalham comigo e não esqueço das meninas que estiveram ao meu lado na primeira loja, na Rua da Relação, no Centro. Eu também tenho um carinho imenso pelos vizinhos do prédio da Tijuca, que foram os grandes responsáveis por divulgar os meus bolos — observa.

As recordações do antigo endereço seguem vivas na memória da confeiteira:

— Só tenho lembranças boas. Foi ali que a minha história com os bolos começou. Quando as encomendas aumentaram muito, os vizinhos me ajudavam a subir com as compras no elevador. Eram quilos e mais quilos de farinha, açúcar… Nunca imaginei que fosse chegar onde cheguei.

Nem nos seus maiores e melhores sonhos Alzira imaginou que fosse se tornar a ilustre proprietária de um império dos bolos.

— Jamais esperei este sucesso. Eu realmente só queria ajudar a pagar as despesas da casa. Mas, de repente, a coisa cresceu de uma tal maneira que a minha cozinha já não dava mais conta, nem eu. Aí tive que chamar uma menina para trabalhar comigo e logo depois abri a primeira loja. A minha maior alegria é saber que os meus bolos empregam muita gente — frisa. — É claro que tive muitas conquistas materiais. Na Tijuca, de certa forma, eu morava de favor. Como não tínhamos como pagar aluguel, meu irmão me deu aquele apartamento, onde tudo começou, para morar. Nunca imaginei que conseguiria comprar uma casa e deixar o meu filho e os meus netos (Guilherme, de 19 anos, e Júlia, de 10) estabilizados financeiramente. Achávamos que nosso filho só herdaria a educação que demos a ele. Mas Deus nos abençoou.

Ambições, Alzira praticamente não tem. Afinal, já conquistou muito mais do que desejou. Há, no entanto, algo que o dinheiro compra e que a deixa rindo à toa:

— Amo viajar. A minha loucura era conhecer a França. Quando fui a Paris, chorei debaixo da Torre Eiffel. Eu não acreditava que estava embaixo daquela torre, naquele lugar onde nunca pensei que iria um dia. Enquanto isso, uma sobrinha se divertia com o meu chororô (risos). Não tenho nada a pedir, só agradeço!

Servir de inspiração para que outras mulheres na maturidade acreditem nos seus talentos também é motivo de felicidade para a confeiteira:

— Uma vez, estava na inauguração de uma loja e uma senhora, mais velha do que eu, veio falar comigo com os olhos cheios de lágrimas. Ela me disse que conhecia a minha história, que estava vivendo uma situação financeira difícil, mas que, se eu tinha chegado ao sucesso aos 60, ela também poderia. A partir daí, começou a vender panos de prato e já estava conseguindo sustentar a família com o trabalho dela. Eu fiquei tão emocionada que chorei abraçada a essa senhora. Nestas horas, a gente tem plena certeza de que tudo, inclusive os momentos de dor, valem a pena. A vida vale muito a pena!

Fonte: https://revistapegn.globo.com/Franquias/noticia/2021/01/fundadora-relembra-inicio-da-fabrica-de-bolos-vo-alzira-que-continua-se-expandindo-na-pandemia.html

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